"Eis
que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir
a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele" (Apocalipse
3,19). Assim fala o Senhor à Igreja de Laodicéia.
Essas palavras não pertencem ao texto dos nossos quatro Evangelhos, mas, fazendo parte do Apocalipse, pertencem ao evangelho eterno que reúne todas as mensagens que Deus dirige aos homens. Elas não conduzem a um episódio histórico determinado. Exprimem uma experiência que pode ser de ontem, de hoje ou de amanhã, um apelo que, sem cessar, ressoa em meu coração, como em meus ouvidos e me comove.
"Eu estou à porta..." Eu o vi chegar. Ele andava rapidamente. Eu sabia, ou melhor, sentia que ele se dirigia à minha casa, e me retirei, apressado, da janela, para que ele não me percebesse. Porque eu não estava seguro de lhe abrir a porta. Suas visitas provocam em mim uma impressão contraditória. Nós nos conhecemos há muito tempo. Houve época em que éramos íntimos. Depois, nossos encontros se espaçaram. De um lado, eu me senti honrado e feliz de tê-lo em minha casa. De outro lado, eu me sentia mal. Ele provocava em mim questões pessoais, inesperada que agiam como queimaduras em meu íntimo. Eu tratava de levar o assunto para o domínio das idéias e das doutrinas, mas ele voltava sempre para as coisas íntimas sobre as quais eu temia falar. Muitas vezes ele veio e eu, ao invés de abrir, me escondi, não sem remorso e vergonha.
Essas palavras não pertencem ao texto dos nossos quatro Evangelhos, mas, fazendo parte do Apocalipse, pertencem ao evangelho eterno que reúne todas as mensagens que Deus dirige aos homens. Elas não conduzem a um episódio histórico determinado. Exprimem uma experiência que pode ser de ontem, de hoje ou de amanhã, um apelo que, sem cessar, ressoa em meu coração, como em meus ouvidos e me comove.
"Eu estou à porta..." Eu o vi chegar. Ele andava rapidamente. Eu sabia, ou melhor, sentia que ele se dirigia à minha casa, e me retirei, apressado, da janela, para que ele não me percebesse. Porque eu não estava seguro de lhe abrir a porta. Suas visitas provocam em mim uma impressão contraditória. Nós nos conhecemos há muito tempo. Houve época em que éramos íntimos. Depois, nossos encontros se espaçaram. De um lado, eu me senti honrado e feliz de tê-lo em minha casa. De outro lado, eu me sentia mal. Ele provocava em mim questões pessoais, inesperada que agiam como queimaduras em meu íntimo. Eu tratava de levar o assunto para o domínio das idéias e das doutrinas, mas ele voltava sempre para as coisas íntimas sobre as quais eu temia falar. Muitas vezes ele veio e eu, ao invés de abrir, me escondi, não sem remorso e vergonha.
Agora, ele vem à minha porta. Não à porta
principal de minha casa, mas uma porta lateral, menor. No começo de
nossa intimidade, quando eu não tinha segredos para ele, eu lhe
havia pedido para vir sempre por essa porta, deixando a grande porta
da frente para os estranhos e as visitas de cerimônia. Depois,
comecei a sentir um mal estar por ter-lhe oferecido essa porta.
Entrando por ela, ele atravessava os cômodos mais familiares de
minha casa, nem sempre arrumados. Parecia interessar-se por minha
sala de jantar, minha cozinha, meu quarto. Eu temia que ele
descobrisse certas coisas que não eram o que deviam ser. Eu
pretextava ocupações urgentes.
Para cortar de vez, condenei a porta lateral, e
comecei a fazê-lo entrar pela porta da frente. O tratamento que
passei a lhe dar fez com que as suas visitas se tornassem frias,
formais, e cada vez mais raras.
Eis que ele chega hoje à porta lateral.
Está fechada. Depois que foi condenada, uma vegetação selvagem
começou a cobri-la. A fechadura ficou toda enferrujada. Ele para
diante da "sua" porta e olha para ela. Será que vai tocar, mostrando
que deseja refazer as relações íntimas de outrora? Ele toca. Será
que abro? Nada está pronto para recebê-lo. Tudo se encontra em
completa desordem. E onde está a chave dessa porta? Ele bate ainda.
Eu observo de longe, ele toca suavemente, lentamente. Noto que seu
olhar se dirige diretamente em frente, para a porta. Sua expressão é
grave, atenta, mas não impaciente. Parece concentrar-se, não sobre a
porta e a resposta que lhe darei, mas sobre a graça que o Pai pode
inspirar.
Ele continua tocando. "Eu estou à porta e
bato". O verbo está no presente. Trata-se de ação repetida
continuamente. Que fazer? Não posso viver sem sua presença. Se abro,
será que ele vai me fazer questionamentos? Tentarei desculpar-me?
Só posso abrir, se me decido a entregar-me a ele, sem condições...
Então não haverá problemas... Dirijo-me à porta. Abro-a com
dificuldade, por causa das plantas parasitas que ai cresceram.
"Senhor, entre, tu sabes..." Eu ia
dizer: "tu sabes, Senhor, que, apesar de tudo, eu te amo!"
Mas não ouso continuar a frase, e um soluço me impede a voz. Ele me
olha com um sorriso calmo e diz: "eu sei... vou cear com você".
Eu me assusto: "Senhor, eu não preparei a ceia; não tenho nada do
necessário". Ele responde: "Sou eu que o convido. Eu quero,
em tua casa, celebrar a minha Ceia".
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